viernes, 18 de enero de 2008

Poema del hombre solo

Luego de algunos años del deslumbramiento producido por Fernando Pessoa he intentado acceder a otros poetas portugueses contemporáneos. El siguiente es un poema de António Gedeão (1906-1997), quien también fuera narrador, ensayista, dramaturgo y autor de libros de divulgación científica.

Poema do homem só

Sós,
iremediàvelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos pasam por nós
e ninguém nos conhece.

Os que pasam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros não se explicam:
arrefecem.

Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de dentro se refracta,
nenhum ser nós se transmite.

Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.

Dão-se os labios, dão-se os braÇos,
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braÇada rota
dá-se tudo e nada fica.

Mas este íntimo secreto
que no silêncio concentro,
este ofrecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarce,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se e desflorar-se,
é nosso, de mais ninguém.

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